sábado, 17 de outubro de 2009


Evasão na Educação de Jovens e Adultos

Resumo: Este artigo tem como tema a evasão na Educação de Jovens e Adultos, abordando questões como a carência dos alunos, dos professores e da escola que atende a EJA. Falar da EJA deve-se antes de tudo procurar entender quem são seus alunos e a situação a qual estes se encontram, pois compreendendo essa realidade torna-se mais evidente as mudanças necessárias e cabíveis. Lembrando que, o currículo deve ser vivo, construído especialmente para o público o qual vai atender e levar em consideração todos os aspectos da realidade do alunado. Além de um currículo adaptado é necessário que a escola seja um espaço agradável, propício e digno para receber os alunos. Assim, este artigo trabalha estas e outras questões que envolvem a evasão na Educação de Jovens e Adultos.
Palavras - chave: Evasão; Carência; Currículo; Ensino; Realidade.
EJA: carência e evasão
A EJA vem ganhando alunos em todo o Brasil, conforme a reportagem da revista Nova Escola on–line, de novembro de 2003 que, "(...) já são mais de 4,2 milhões de alunos em todo o país". Com isso, vemos que esse não é um projeto simples ou de iniciativa unicamente do Brasil, pois existe uma grande pressão interna e externa buscando incessantemente a erradicação do analfabetismo.
A EJA atende a uma clientela em sua maioria de baixa renda, são pessoas que por motivos financeiros e outros tiveram que adiar seus estudos, muitas das alunas trabalham em casa de família, são mulheres que demonstram ansiedade para aprender a ler, escrever e realizar operações matemáticas. Há também muitos jovens que tiveram que deixar os estudos para trabalhar e ajudar com a renda familiar. Esses alunos são pessoas pouco politizadas, com um nível crítico e questionador não muito desenvolvido, o medo de errar deles muitas vezes os impede de realizar as atividades.
Porém, são poucos os alunos da EJA que concluem os estudos, a realidade da Educação de Jovens e Adultos é muito triste no aspecto da evasão escolar.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas. O estudo mostra que 40,3% dos alunos nessa faixa etária que abandonaram a escola o fizeram por falta de interesse, 27,1% por razões de trabalho ou renda, 10,9% por falta de oferta e 21,73% por motivos diversos.
O maior percentual de falta de interesse como justificativa para o abandono na escola foi em Tocantins: 59%. Em Sergipe (42%) e em Santa Catarina (38%) houve o maior número de respostas indicando demanda por trabalho e renda como o motivo da evasão. Das jovens que indicaram “outros motivos”, 46% falaram em gravidez.
Para o coordenador da pesquisa, o economista Marcelo Neri, o resultado mostra que manter o jovem na escola não é apenas uma questão econômica: — É preciso criar e atender a demanda por educação. Garantir a atratividade da escola.
Garantir a permanência do aluno na EJA é o grande desafio do professor, pois a Educação de Jovens e Adultos sofre discriminação por parte dos governos e da sociedade. Sua criação tem cunho de política pública compensatória.
Os alunos vêm geralmente de uma jornada árdua de trabalho, muitas vezes cansado e com fome para a escola, porém esta não oferece merenda, fornece apenas o espaço para estudo, este muitas vezes mal iluminado e pouco arejado o que dificulta ainda mais o estudo.
Além das dificuldades os alunos da EJA não têm um acervo de livros criado especialmente para eles, não possui uma variedade de recursos didáticos tecnológicos e não tecnológico e as atividades acabam muitas vezes se limitando à cópias do quadro negro o que as torna pouco atrativas e dinâmicas, o que deixa ainda mais difícil a permanência dos alunos na escola.
Lembrando que, o professor que atua na EJA vem de uma exaustiva carga horária de trabalho e procura complementar sua renda ministrando o máximo de aulas possíveis, isso acaba por desgastar o professor, interferindo na qualidade do ensino, já que este terá pouco tempo para planejar suas aulas e pouca energia e disposição para ministrá-la.

Para mudar essa realidade
O currículo desenvolvido para a EJA deve ter como base a importância de ensinar não apenas para aprender a ler e escrever, mas educar o aluno com interesse de politizá-lo, colocá-lo como agente dentro da sociedade.
A desistência por falta de interesse é um motivo muito sério e que pode ser revisto, as atividades em sala de aula são de autonomia do professor e este tem como planejá-las de acordo com seu público alvo, lembrando que é imprescindível que o professor conheça seu alunado.
Buscar desenvolver um pensamento autônomo não só em relação às áreas do conhecimento, mas da autonomia pessoal/individual. Estimular debates e atividades de socialização que envolva temas atuais e do cotidiano é um caminho a ser percorrido, o qual poderá ajudar a trazer inferências dos alunos a respeito dos temas abordados.
As transformações no mundo são cada vez mais evidentes, o homem provoca mudanças na natureza e ao seu redor, mudanças essas que interferem diretamente na vida de todos. A educação atual deve ter como objetivo buscar compreender essas transformações, principalmente nos campos do saber da geografia física, geografia humana, sociologia e a biologia.
Outro sim é a possibilidade de tornar as aulas mais vivas, levantar questões para debates que levem o aluno a compreender o seu meio e a perceber ângulos diferentes a respeito dos temas abordados, como por exemplo, a organização do espaço, paisagem, organização social, meio de transportes, modo de vida, entre outros.
Nesse entendimento, cabe ressaltar as críticas narrativas do educador Paulo Freire, em sua obra Pedagogia da Autonomia:
(...) O caminho autoritário já é em si uma contravenção à natureza inquietamente indagadora, buscadora, de homens e de mulheres que se perdem ao perderem a liberdade.
É exatamente por causa de tudo isso, como professor, devo estar advertido do poder do discurso ideológico, começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, mas é possível que não perceba a natureza ideológica do discurso que fala de sua morte. O discurso ideológico nos ameaça de anestesiar a mente, de confundir a curiosidade, de distorcer a percepção dos fatos, das coisas, dos acontecimentos. (FREIRE, 1996, p.132)
O tempo do aluno e do professor na escola deve ser de qualidade intelectual, produtiva e o ambiente deve oferecer condições dignas e humanas, buscar indagar, questionar os fatos que nos envolvem, perceber as ideologias são situações que devem cercar o aluno da EJA.
Pessoas com mais de 15 anos - mesmo na condição de alunos - não são crianças crescidas. O trato infantilizado é um dos motivos da evasão nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e nasce com a idéia equivocada de que se deve dar ao estudante, jovem ou adulto, o que ele não teve quando criança. Por causa disso, é preciso também mudar a abordagem e, muitas vezes, o conteúdo. Trabalhar com material didático infantil sem levar em conta as expectativas de aprendizagem e os conhecimentos prévios é um equívoco.
A EJA tem de ser encarada como um atendimento específico, que pede um currículo próprio. Só assim o grupo vai aprender e tomar consciência do que está fazendo. Se o educador quiser abordar a origem do ser humano, deve tratar o tema de forma adulta, com respeito à diversidade religiosa - sem se desviar das propostas curriculares - e aprofundar a discussão científica, mais do que faria numa turma de crianças. Cantigas e parlendas - usadas na alfabetização dos pequenos - podem ser substituídas por poesias e textos atrativos mais apropriadas para os leitores mais velhos.
Paulo Freire diz em seu livro "A Pedagogia do Oprimido" que não há nada melhor para o desenvolvimento dos alunos, que o respeito aos conhecimentos com os quais o aluno já chega ao adentrar a escola, sendo o dever do professor e mesmo da instituição o de instigar para que esses conhecimentos sejam ampliados e até mesmo melhor, entendidos em um contexto amplo.
Portanto, a escola não é o único lugar onde o aluno adquire conhecimento, e ainda há questionamentos que afirmam ter a escola uma estrutura de leis e toda uma programação que não permite o desenvolvimento do aluno a seu tempo e assim não permitindo que o aluno venha a desenvolver suas habilidades.
Outra questão que preocupa o professor da EJA é sobre qual seria a forma correta de avaliar esse aluno, evidenciando as peculiaridades desse público impõe, pois cabe ao professor reconhecer as diferenças na capacidade de aprender dos alunos, para poder ajudá-los a superar suas dificuldades e avançar na aprendizagem.
A consciência de que enquanto não se investir na qualidade da educação e nos professores, oferecendo um ambiente agradável e que atenda as necessidades dos alunos, os problemas de evasão, repetência, exclusão e tantos outros continuarão existindo e a escola continuará, cada vez mais, a se afastar da sua real missão que vai muito além de ensinar a ler e escrever.


Referência

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35º ed. São Paulo: Paz e Terra. 1996.

*não copie, use como apoio e referência.

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