POVOS INDÍGENAS: CULTURA E IDENTIDADE
O presente trabalho condensa algumas reflexões sobre os povos indígenas no Brasil, para se pensar em grupos indígenas, deve-se pensar em cultura, em identidade e com base em Franz Boas, considerado o inventor da etnografia, o qual apresenta obras que expressam uma nítida tentativa de pensar a diferença entre os grupos humanos, ao passo que pesquisas do etnólogo demonstram que tal distinção é atribuída a fatores culturais. Boas com sua visão particularista, busca fugir do etnocentrismo no estudo da cultura, pois cada sociedade representa uma totalidade singular. Conclui num princípio ético que a dignidade de cada cultura e exalta o respeito e a tolerância em relação a culturas diferentes. Assim, o olhar direcionado aos grupos indígenas não deve ser simplório e generalizado, pois cada aldeia possui sua singularidade e identidade, a qual se define por ser um processo de criação de sentido pelos grupos e pelos indivíduos, tem sua pauta nas ações e no discurso, pois quando se afirma algo, nega outros.
O Brasil tem uma cultura essencialmente indígena e em todo território nacional há diversas aldeias que se caracterizam pelo multiculturalismo. A princípio vivia aproximadamente cinco milhões de indígenas com mais de mil etnias diferentes na costa brasileira. Atualmente há cerca de 220 etnias, isso significa que com o tempo povos indígenas foram desaparecendo, o que é lamentável, pois com eles foram também a riqueza de sua cultura.
Podemos destacar dentro da cultura indígena, diversos fatores que diferenciam num contexto global mais amplo, a casa, a família, o trato de crianças e idosos, cerimônias, ritos de passagem e de cura são ricos, aliados a sua peculiar relação com a natureza e forma de trabalho que os valoriza como célula e os identifica como seres humanos privilegiados.
A família é à base da sociedade indígena, ninguém pode viver sozinho. Cada pessoa tem seu papel e sua importância, o homem busca o alimento através da pesca ou da caça e a mulher é responsável por preparar os alimentos. As crianças são sagradas e livres para fazerem o que querem Dentro desse parâmetro de célula familiar as crianças crescem cercadas de carinho, são de responsabilidade de toda a tribo. Crescem livres, experimentando a natureza, no convívio com a família.
Antigamente não havia escolas nas aldeias. A escola era a vida. Atualmente há em muitas tribos o ensino nos moldes ocidentais, onde crianças e jovens aprendem português, matemáticas e outras ciências, preparando-se para a vida moderna, esta que trouxe para as tribos televisão, computadores, vídeos, etc. Esses recursos ajudam o povo indígena a se comunicar e se fortalecer, porém pode influenciar de forma negativa, afastando as novas gerações do conhecimento tradicional.
A velocidade dos meios de comunicação acarreta em identificações “globais” e novas identificações “locais”, ou seja, estabelecendo novos padrões provocando uma crise de identidades. O indivíduo consciente e crítico saberá compreender e examinar as mensagens transmitidas nos meios de comunicação. Assim, é determinante o papel dos mais velhos para manter vivo os costumes, os rituais e a transmissão de sua importância. Para que a tribo tenha sua identidade afirmada. As histórias do passado, os mitos que guardam o ensinamento, são patrimônios dos mais velhos, que compartilham com a aldeia esse conhecimento transmitido de geração em geração. Eles também orientam e ajudam a decidir a vida da comunidade.
Segundo Agostinho Kaxinawá, “as crianças são a esperança da continuidade do nosso povo e os velhos são o conhecimento e a sabedoria dos antepassados”.
As tribos constroem suas casas com madeiras e palhas extraídas da floresta e adaptadas para as necessidades do cotidiano, são estruturas que formam círculos ou ferraduras, com o pátio de cerimônia no centro.
A casa é um lugar de convivência e aprendizado, onde se repousa, restauram-se as energias, prepara e compartilha o alimento. Sendo um território essencialmente feminino, onde as mulheres exercem seu poder. São elas que geram a vida, alimentam a família, transmitem a cultura e os conhecimentos milenares para as crianças e aconselham os maridos nos assuntos da comunidade e na política local.
O pátio da aldeia é território masculino, onde os jovens exercitam seu corpo e espírito para a sobrevivência, também se discute as questões políticas, resolvem-se os problemas e acontecem as cerimônias.
As cerimônias e rituais marcam a vida, definindo o tempo, as mudanças sociais, os conflitos, os acordos, os períodos de plantar, colher, as curas, os funerais. Tudo é explicado pelos mitos. E, nos rituais, o ensinamento dos mitos é revivido. Os cantos, as danças, os adornos e os objetos, rituais são formas de comunicação com os espíritos se conduzem os mortais por caminhos mágicos dentro das cerimônias.
Um pajé ou xamã é uma pessoa de muito poder, que faz a ligação do mundo real com o mundo dos espíritos. Ele cuida do equilíbrio das forças da natureza e da alma para que tudo esteja bem e em paz.
O casamento é diferente para cada etnia e envolve, às vezes, rituais complexos ou apenas a troca de presentes. Mas para o grupo que preserva a tradição, é sempre um acordo político entre as famílias. Dá à sustentação á comunidade, promove o equilíbrio entre os clãs. A união de homem e mulher é o principio de uma nova célula familiar, a junção de forças complementares que são à base da vida e a garantia da manutenção da união da tribo.
Os povos nativos têm técnicas avançadas apropriadas as suas necessidades. Sabem transformar o que a natureza oferece, sem destruí-la mantendo o seu equilíbrio. A matéria prima encontrada se transforma em arquitetura sofisticada, em utensílios, em cerâmicas, em redes e esteiras, em tecidos e adornos.
Toda cultura material dos povos nativos está carregada de princípios e objetivos, de valores estéticos e sociais. O talento dos artistas está a serviço da manutenção da tradição do povo, da continuidade de sua identidade.
No entanto, segundo comentário de Ailton Krenak, um dos fundadores do Núcleo de Cultura Indígena em 1983, os acontecimentos, ritos e características relacionadas ao índio são sempre emblemáticos (caricaturados) e infelizmente as pessoas ainda tem uma visão muito limitada sobre o índio. O índio está por todo território nacional, vivendo segundo sua cronologia e cultura particular e pensar na sua educação diferenciada é imprescindível. Qual o sentido então da pedagogia na educação Indígena? Quais olhares dispõem para (re) pensar a cultura e imagem do índio?
Embora não tenha escrito especificamente sobre a educação indígena, Paulo Freire acredita que o ato de ensinar requer a aceitação do novo e a rejeição de qualquer forma de discriminação. Para ele “a prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.” (1996, p. 36)
A escola assim passa a conviver com o cotidiano do índio que as vê como uma ponte de ligação com o mundo e com a modernidade, que traz pontos positivos e negativos.
Assim, para o indigenista Orlando Villas Bôas dentro desse processo de interação com o mundo identifica-se a aculturação do índio, que preso a modernidade afasta-se do conhecimento tradicional da tribo, sendo que este processo não é igual para todos, pois não significa que usando a tecnologia ou materiais normalmente utilizados nas sociedades modernas o índio irá sofrer um processo de aculturação. O importante é que o índio não perca suas raízes, sua cultura. Ademais, Bôas ainda crê numa possível extinção do índio se não forem paralisadas as políticas que temos hoje, onde os direitos dos povos indígenas à terra não são respeitados e a demora na aplicação dos recursos para as tribos indígenas compromete profundamente a vida destes.
REFERÊNCIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 36º Ed. São Paulo; Paz e Terra, 1996.
sábado, 17 de outubro de 2009
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